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Deitado na areia, ele contava os grãos que tocavam suas costas nuas. Seu corpo queimava enquanto contava, um a um, numa soma infinita. Quatrocentos mil duzentos e noventa e três no ombro direito. Trezentos mil quinhentos e vinte e um no esquerdo. Pequenos grãos que tatuavam em suas costas as arestas angulares esculpidas pelo tempo. Quando acabava a contagem, estendia os braços antes cruzados no peito e tocava, agora com as mãos, essas pequenas pedrinhas que cobriam seus dedos. Tentava segura-las todas, mas escapavam por baixo e por cima. Quanto mais se esforçava, mais rápido escapavam. As que ficavam, guardava, parte, na palma da mão e, outra parte, no orifício circular que dormia no meio da barriga. E continuava a brincadeira até sentir seu peito coberto de cristais. Era, então, a ampulheta.