O que acontece com as lembranças do tempo que não registramos? Como sei que são lembranças e não imagens que criei?
Saudade de quando eu era criança e o tempo passava lento.
Sou apenas o que escrevo.
Quem fala quando eu falo?
Olho você. Vejo o seu corpo. Se você me olha quando eu te olho, me desloco para um universo que parece só meu. É um você que se revela inteiro. Para ninguém mais. Apenas para mim. E te entrego, nesse momento, o que de mim poderia se revelar, também, inteiro. Para ninguém mais. Apenas para você. Este é o nosso segredo. Apenas nós somos capazes de nos conhecer.
Ele morreu. Mas ainda há um corpo Uma carcaça. Um recipiente vazio de desejo. A morte é a ausência do desejo. Não. Não. Há quem não deseje. Há quem viva da realização material da consciência. Há vida sem desejo. Uma subvida. Uma existência morta.
Ele morreu. Eu chorei pensando no futuro que ele não terá.
Avance. Avance. Avance.
Você me vê sombra e insiste em me dizer quem eu sou. Para você, sou pouco. Sou do tamanho daquilo que você pode dominar. Você que me quer assim: pequena. Eu finjo ser assim: pequena. E observo cada lance seu nesta batalha íntima e vã de alguém que espera ser algo que jamais se tornará.
Pilotis: conjunto de colunas de sustentação do prédio que deixa livre o pavimento térreo. Corpo: pavimento térreo. Livre.
Estou aqui? Ou lá? Estou aonde sou? Ou sou o que alcanço?
Avance. Avance enquanto o tempo não passa. Enquanto há tempo. Enquanto dizem “avance!”
Vejo, da paisagem que eu via, o olhar do outro: o que tem a menina? Ela parece magra. Parece surda. Parece morta. Onde está a menina? Só tem um corpo.
Nada. Nada. O inverso do dito. A bipolaridade da alma. Num dia se chora. No outro, ri.
Nada. Nada. Apenas tristeza que ninguém vê.
Perdi-me em fatídicas batalhas mentais acreditando que poderia, eu, o corpo, controlar meus pensamentos. Permaneci nesta brincadeira até fracassar. Mas, agora, diante da visita da árvore-sozinha, estamos, nós, eu e meus pensamentos, entorpecidos diante do belo.
Eu estou enlouquecendo? Mas, se estivesse, eu saberia?
Quanto custa fingir que sou esta que me tornei e que, agora, sou?
Quanto custa o meu sono quando estou desperta e o meu ânimo quando o sono me acolhe no momento de minha ausência para o mundo?
Quanto custa a minha expectativa em acreditar que encontrarei, nos livros, a compreensão sobre quem sou eu e quem é você?