O que acontece com as lembranças do tempo que não registramos? Como sei que são lembranças e não imagens que criei? 

Olho você. Vejo o seu corpo. Se você me olha quando eu te olho, me desloco para um universo que parece só meu. É um você que se revela inteiro. Para ninguém mais. Apenas para mim. E te entrego, nesse momento, o que de mim poderia se revelar, também, inteiro. Para ninguém mais. Apenas para você. Este é o nosso segredo. Apenas nós somos capazes de nos conhecer.

Ele morreu. Mas ainda há um corpo  Uma carcaça. Um recipiente vazio de desejo. A morte é a ausência do desejo. Não. Não. Há quem não deseje. Há quem viva  da realização material da consciência. Há vida sem desejo. Uma subvida. Uma existência morta.

Você me vê sombra e insiste em me dizer quem eu sou. Para você, sou pouco. Sou do tamanho daquilo que você pode dominar. Você que me quer assim: pequena. Eu finjo ser assim: pequena. E observo cada lance seu nesta batalha íntima e vã de alguém que espera ser algo que jamais se tornará.

Pilotis: conjunto de colunas de sustentação do prédio que deixa livre o pavimento térreo. Corpo: pavimento térreo. Livre.

Vejo, da paisagem que eu via, o olhar do outro: o que tem a menina? Ela parece magra. Parece surda. Parece morta. Onde está a menina? Só tem um corpo.

Perdi-me em fatídicas batalhas mentais acreditando que poderia, eu, o corpo, controlar meus pensamentos. Permaneci nesta brincadeira até fracassar. Mas, agora, diante da visita da árvore-sozinha, estamos, nós, eu e meus pensamentos, entorpecidos diante do belo.

Quanto custa o meu sono quando estou desperta e o meu ânimo quando o sono me acolhe no momento de minha ausência para o mundo?

Quanto custa a minha expectativa em acreditar que encontrarei, nos livros, a compreensão sobre quem sou eu e quem é você?